Wednesday, November 27, 2013

A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.


Brisa marinha (Brise marine)
A carne é triste e eu, aí! já li todos os livros.
Fugir! Fugir p’ra longe. Oiço as aves aos gritos
Ébrias na espuma ignota e sob o céu, em bando!
Nada, nem vãos jardins nos olhos se espelhando
Retém meu coração que se embebe de mar,
Oh noite! nem a luz da candeia a alumiar
O deserto papel que a brancura defende;
Nem mesmo jovem mãe que seu filho amamente.
Hei-de partir! Vapor em marítimas crises,
Iça o ferro e faz rumo a exóticos países.
Um tédio triste, em cruel e inútil esperar,
Crê no supremo adeus dos lenços a acenar.
Que os mastros, porventura, atraindo presságios,
São os mesmos que um vento inclina nos naufrágios.
Soltos no mar, no mar, sem ilhas nem esteiros.
Mas ouve, coração, cantar os marinheiros.
Tradução de Herculano de Carvalho
BRISA MARINHA

Tradução: Augusto de Campos

A carne é triste, sim, e eu li todos os livros.
Fugir! Fugir! Sinto que os pássaros são livres,
Ébrios de se entregar à espuma e aos céus
[ imensos.
Nada, nem os jardins dentro do olhar suspensos,
Impede o coração de submergir no mar
Ó noites! nem a luz deserta a iluminar
Este papel vazio com seu branco anseio,
Nem a jovem mulher que preme o filho ao seio. 
Eu partirei! Vapor a balouçar nas vagas,
Ergue a âncora em prol das mais estranhas
[ plagas!

Um Tédio, desolado por cruéis silêncios,
Ainda crê no derradeiro adeus dos lenços!
E é possível que os mastros, entre ondas más,
Rompam-se ao vento sobre os náufragos, sem
[ mas-
Tros, sem mastros, nem ilhas férteis a vogar...
Mas, ó meu peito, ouve a canção que vem do
[ mar!

Wednesday, June 12, 2013

Identidade, memória, repertório afetivo, bilinguismo, Língua e linguagem!


Lindo documentário sobre identidade e linguagem, bilinguismo e função afetiva da língua! Vale a pena!


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Monday, May 27, 2013

A discussão sobre os papéis sociais invade a telona.

Educar X Ensinar. Esse binômio nunca esteve tão presente nas discussões que envolvem a delimitação dos papéis de duas instituições sociais fundamentais: a escola e a família. 


Num passado não muito remoto esses limites eram bem definidos: à família cabia educar através de códigos de regras transmitidas de geração em geração; à escola, cabia ensinar e capacitar o indivíduo.

Com as frequentes e profundas alterações pelas quais passaram essas duas instituições nas últimas décadas, os papeis passaram a se confundir e, a certo ponto, a se inverterem, causando um mal estar social e gerando uma polêmica difícil de ser resolvida. Na produção franco-canadense Monsieur Lahzar (ou "O que traz as boas novas"), o assunto emerge de uma maneira dramática. Logo pela manhã, ao entrar na sala de aula antes dos colegas, um aluno se depara com o corpo de sua professora, que se enforcou alí mesmo, na noite anterior. Como tinha pressa e não encontrava nenhum professor disponível, a diretora decide contratar um candidato de origem argelina, o qual apresenta um bom currículo, comprovando anos de experiência tanto em seu país de origem quanto no Canadá, país que o acolheu. O que ninguém sabia, porém, era que o argelino estava se recuperando de uma tragédia pessoal, na qual toda a sua família havia sido assassinada e também do fato de que ele ainda estava requerendo sua permanência definitiva no país. A diferença cultural entre ele e os alunos já se evidencia nos primeiros dias de aula.
 
Ao mesmo tempo em que as crianças tem que lidar com uma situação tão inquietante como a morte, elas ainda enfrentam os métodos ultra-tradicionais do novo professor, tão contrastantes com os da antiga. O que prevalecia no ambiente da sala era o sentimento de opressão pelo fato de não poderem e não serem incentivados a falar sobre o ocorrido de forma clara e manifestar suas opiniões e sentimentos. 

Diante disso, o professor, que também sofre em segredo, procura abrir espaços de discussão aos alunos, mas é duramente repreendido pela direção. Essa distância entre os professores e os alunos fica evidenciado quando, durante uma conversa com um colega, ele ouve que as crianças tem que ser tratadas como "radioativas", ou seja, que nenhum contato mais próximo deve ser mantido entre eles.  Esse fato é confirmado durante uma reunião com os pais de uma das alunas na qual eles deixam bem claro que o papel do professor é o de ensinar e que cabe exclusivamente a eles, os pais, a função de educá-la.  Apesar da frustração, Lahzar  se aproxima mais efetivamente de uma de suas alunas, a qual enxerga no mestre uma referência para suprir a falta da mãe, sempre distante pelas obrigações profissionais.

É durante uma atividade de redação, porém, que o tema sobre a morte da professora vem à tona com mais força. Durante uma discussão entre os alunos, se sugere que o suicídio da professora pode ter sido causado pelo fato de a mesma ter se desequilibrado emocionalmente e desenvolvido uma forte depressão após ser duramente reprimida pelo fato de ter acolhido e tentado ajudar um aluno com problemas familiares. Apesar de presenciar a necessidade emocional de seu aluno, ela tinha que conviver com a angústia de ter que se limitar à sua função de professora, ou seja, ensinar. Porém, o fato de ter sucumbido e deixado aflorar seu lado humano nessa relação tão inevitável foi o erro trágico dessa mulher dentro de uma sociedade cujos limites são bem claros e definidos!